22/03/2021

“Divinão”, figura marcante nas arquibancadas do Accioly, Serra Dourada ou Olímpico, deixou o nosso convívio, com indícios de Covid, o lendário Divinão. Na mesma semana quem nos deixou foi o “Gomes” ou “ Gominho” ou “Gomes Leiloeiro”, também mais uma vítima do Covid, campineiro mais do que querido pelos atleticanos. De um lado o lamento profundo de pensar que a omissão dos Governantes está levando muitas pessoas queridas, que todos essas pessoas poderiam ainda estar aqui,  deveriam já estar vacinados, e que tantas mortes poderiam ser evitadas… E, de outro,  o coração enternecido por ter a certeza de que Gomes e Divinão deixam um legado de amor, simplicidade e simpatia, símbolos que são da carismática torcida do rubro-negro de Campinas. 

Divino Donizete era conhecido por trabalhar por muito tempo puxando o seu “Carrinho de catar papel” e por só andar com a camisa do Atletico Goianiense. Divinão foi aquele atleticano que pode ser chamado sem sombra de dúvidas de “Torcedor-Raiz”. Viveu os anos vitoriosos de 1980 do Dragão, depois passou pelos difíceis tempos dos 17 anos de jejum de títulos e péssimos resultados, dentro e fora de campo, e se alegrou com as conquistas e glórias dos últimos 16 anos. Fizesse chuva ou sol, bons ou maus momentos, e ele estava lá, nunca abandonou o Dragão. Seu jeito terno e de certa fomar até ingênuo, apaixonado, motivou a torcida a homenageá-lo em vida com uma grande bandeira nas arquibancadas. Lembro bem, em um jogo das categorias de base do Atletico, no Accioly, em 2016,  onde alguns torcedores montaram uma barraquinha para vender salgados e cerveja e o dinheiro arrecadado era para comprar Cimento para a obra de reconstrução do Accioly, tiramos varias fotos com Divinão, orgulho ser companheiro de arquibancada de pessoas como ele. 

Gomes era referência no Bairro de Campinas, muito conhecido na Igreja Matriz e por agitar os leilões das festas da igreja. Com seu chapéu de pescador não perdia um jogo do Dragão, ajudou e cooperou muito na fundação da Associação de Torcedores Antonio Accioly-ACAD, na luta para que o Estadio não se transformasse em Shopping, no ano de 2015. Em 2017 foi um dos que se empenhou para reservar o Salão da Igreja Santo Antonio, no Bairro de Campinas, onde fizemos uma grande festa para celebrar os 80 anos do Atletico. Todos os dias eu recebia em meu whats app uma mensagem de oração do Gomes, a ultima foi no dia 15 de março, infelizmente. 

Divinão e Gomes ficam marcados na história de cada atleticano, terão lugar cativo no Museu do Dragão, na galeria de “Torcedores Símbolo”. É por conta de pessoas assim que o futebol existe, são eles a razão disso tudo, desses que gostam do Alamrado, do amendoim, do picolé, de sentarem na barraquinha de espetinho na porta do Estádio, antes e depois do jogo, que saem com a camisa do clube mesmo no dia após a perda do título para o rival, doam tudo por uma paixão e nunca pedem nada. 

Quando Antonio Porto narrava os jogos do Atlético Goianiense nos anos 50 e 60 e dizia “Estremecem os alicerces da Avenida Paranaíba, está entrando em campo o Clube do Povo: Atlético Goianiense”, e quando Walter Junqueira escrevia na capa do Disco/LP, comemorativo do título goiano do Dragão em 1964, : “ Atletico Goianiense – o Glorioso Clube do Povo” , era por conta de pessoas como Gomes e Divinão, eles se inscrevem como estrelas, agora no céu, dessa tradição popular e simpática dos Torcedores Símbolo do “Time da Chacrinha” , do clube nascido na “Vila Operária esquina com o Bairro de Campinas”, juntam-se a Baio, Maria Fã, Respeita as Cores, Barreto e uma legião de pessoas simples, humildes e encantadoras, expressões do que resiste de um futebol como paixão popular e comunitária, alegria dos que superam tudo quanto é dificuldade em nome daquilo que amam, e no caso deles, o amor de suas vidas foi o Atlético Goianiense. 

Paulo Winicius "Maskote" –  Diretor de Patrimônio Histórico e Cultural do Atlético Goianiense, Historiador, Professor, Doutorando em História pela USP, Sócio Proprietário do Atlético.