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Dragão e Vasco – Embates, Ídolos e Lembranças compartilhadas

No dia 07 de janeiro de 2021, mais uma página da história do Atlético Goianiense em campeonatos nacionais será escrita: ocorrerá o primeiro embate entre Dragão e Vasco no Estádio Antônio Accioly, no tradicional Bairro de Campinas, em Goiânia.

As duas equipes já se conhecem há várias décadas, o primeiro confronto foi em 1958, de lá para cá tivemos 27 jogos, com 5 triunfos do Atlético, 6 empates e 16 vitórias dos cruzmaltinos. A primeira vitória do Dragão contra o clube da colônia portuguesa ocorreria já no ano de 1965, 1 a 0 em partida amistosa ocorrida no Estádio Olímpico. E olha que vencer o Vasco naquele ano não era para qualquer um, essa mesma equipe, dirigida por Zezé Moreira, seria vice-campeã brasileira da então chamada Taça Brasil, perdendo só para o Santos de Pelé na final. Esse mesmo Campeonato Brasileiro de 1965 também foi disputado pelo Dragão, que ficou na 10ª colocação.

Vasco e Atlético têm em comum a origem popular, a paixão de longa data de seus torcedores por seus Estádios – Antônio Accioly e São Januário - que são inclusive, os dois, considerados como Patrimônio Cultural por seu valor histórico, esportivo e social.

O cronista que vos fala tem histórias especiais quando se trata de Atlético e Vasco, afinal, aqui em Goiás somos muito influenciados pela cultura do eixo Rio-São Paulo, o monopólio privado dos meios de comunicação dá destaque aos clubes de lá, então aqui é muito comum essa história de torcer para um time local e um “de fora”. E não é que meu time “de fora” era o Vasco? Time da minha mãe, Alba Valéria, aliás. Influenciado pela vascaína Madrinha Fânica, natural de Nova Veneza, - terra de genuínos atleticanos, como Dadinho e a Família Stival - , vivi a infância e adolescência quase toda admirando e ouvindo histórias de Zanata, Roberto Dinamite, Geovane, Carlos Germano, Edmundo e cia.

Mas daí chegou o ano de 2009, precisamente um 05 de setembro, no Estádio Serra Dourada, o Dragão disputando com o Vasco o acesso para a Série A de 2010, no Campeonato Brasileiro da Série B de pontos corridos, frente a cerca de 20.000 torcedores, imensa maioria de atleticanos e os vascaínos espremidos num cantinho atrás do gol. Primeiro tempo 2 a 0 pro Dragão, gols de Jairo e Juninho… Daí veio o segundo tempo e... a ruptura com o Vasco… O Juizão simplesmente marcou 2 pênaltis e expulsou 2 jogadores do Atlético durante o jogo, a torcida vascaína zombando com o fato de sermos… “goianos”… Ali eu percebi que aquilo não me pertencia mais, que o Dragão precisava de toda minha energia só para ele. E tivemos um desfecho até interessante nesse dia, mesmo com todo esse empenho do “apito amigo” o Vasco não conseguiu mais que um empate, o goleiro Márcio pegou um dos pênaltis, batido com “paradinha” por Carlos Alberto, e evitou a vitória do Almirante da Colina. A torcida do Dragão em sua maioria saiu celebrando a força de um time operário com Marcão, Róbston, Pituca e Chiquinho contra os badalados Carlos Alberto, Elton, Phillipe Coutinho, Amaral e Fernando Prass. Mostramos quem mandava no pedaço.

E por falar em História e Paixão, tivemos um jogador atleticano que conjugou com maestria tudo isso nas duas camisas: a cruzmaltina e a do dragão goiano. Esse foi o ponta direita “Luizinho”, Luiz de Oliveira e Silva, que, no Atlético desde 1962, foi campeão goiano com o rubro-negro em 1964, chamando a atenção do Vasco da Gama e logo se transferindo para o clube carioca, onde ficou de 1965 a 1967. Luizinho foi campeão pelo Vasco do Torneio Rio-SP de 1966, antes, em 1965, faturou a Taça Guanabara e o Torneio IV Centenário da Cidade do Rio de Janeiro, bem como também esteve na final da Taça Brasil daquele ano. O habilidoso ponta direita quase foi convocado para a Copa do Mundo de 1966, atuando pelo time da cruz de malta, porém, em um jogo do Vasco diante do São Paulo foi atingido maldosamente pelo marcador chamado Paraná e quebrou a perna, prejudicando sua carreira. Luizinho volta ao Dragão e é imprescindível nas conquistas do Campeonato Goiano de 1970, fazendo o gol decisivo do Torneio da Integração Nacional de 1971, sobre a Ponte Preta. Curiosidade interessante sobre Luizinho é que ele fez 19 gols em clássicos contra a equipe do Goiás, entre 1963 e 1973, sendo um verdadeiro carrasco da equipe esmeraldina, com destaque para 3 gols em uma partida só, goleada de 4 a 2 do Dragão sobre o time alviverde pelo Goianão de 1964.

Voltando ao Campeonato Nacional, em sua divisão principal, o confronto entre Atlético e Vasco é sem dúvida de tirar o fôlego, a começar pelo Brasileirão de 1980, onde o Dragão, sob o comando de José Calazans e com Gilberto, Valtair e gol de Luis Poiâne, bateu por 1 a 0 o Vasco vice-campeão carioca de Leão, Jorge Mendonça e Marco Antônio para um público de mais de 18.000 pessoas no Serra Dourada.

Em 1986, também pela Série A, o Vasco precisava ganhar do Atlético para se classificar para a próxima fase, mas o Dragão, esse sim já classificado, jogou muito com Palhinha, Marçal, Célio Gaúcho e Osmarzinho e garantiu um 0 a 0 que lhe interessava, frente a um Vasco com Roberto Dinamite, Romário, Mazinho e Acácio, com 26.000 presentes e show da torcida do Dragão mais uma vez no Serra Dourada.

Mas nem só de lembranças boas vive o atleticano em relação ao Vasco da Gama, eu que o diga. O título perdido na final do Goiano de 2013 se deveu, e muito, a gols perdidos dos jogadores vascaínos emprestados ao Atlético, Pipico e William Barbio. Eita raiva que já passamos, acho que do lado vascaíno compartilham essas impressões também.

Outro ponto em comum é a passagem do atacante Sorato pelo Dragão em 2008, ele que foi o responsável pelo gol decisivo que deu ao Vasco o título Brasileiro de 1989. Pelos lados de cá, Sorato não rendeu muitos frutos ao Dragão.

Em 2016 temos um capítulo a parte nos embates entre o clube do Bairro de Campinas e o clube
de São Januário. Nesse ano as duas equipes disputaram o Campeonato Brasileiro da Série B, e o Vasco chegou para o jogo da 8ª rodada contra o Dragão precisando de um empate para igualar a maior sequência invicta da história do clube, jogo em Cariacica-Espirito Santo, quase 20.000 vascaínos lotaram o estádio. Mas, o Dragão botou água no Chopp vascaíno: com direito a gol do artilheiro Junior Viçosa venceu por 2 a 1 e encerrou a sequência de 7 meses e 34 jogos sem derrota dos cruzmaltinos, que havia, entre outras façanhas, sido campeões cariocas daquele ano. Foi um resultado para dar moral e ao fim o Dragão se sagrar campeão brasileiro, mesmo com um Vasco dirigido pelo tetra campeão mundial Jorginho, com o goleiro da seleção uruguaia Martin Silva, e craques como Nenê foi o Atlético de Marcelo Cabo, Luiz Fernando, Lino e Pedro Bambu que levou a taça. Tal façanha é até hoje o único título nacional de um clube goiano em um campeonato com a presença de um dos grandes times do Eixo RJ-SP.

E o Brasileirão 2020? O que dizer? Pandemia a parte, tristeza pela ausência de público, fica a satisfação de termos ganhado do Vasco a primeira partida dentro de São Januário em nossa história, no dia 10 de setembro, com dois gols de Renato Kayser. E agora começar 2021 recebendo esse mesmo Vasco da Gama, ali no Accioly, a poucas quadras de onde estudei, morei, na mesma 24 de outubro onde quando criança andava com a camisa do Vasco, presenteada pela Madrinha, para ir jogar videogame na “Games Club”, ali na antiga Avenida Bahia, atual rua Alberto Miguel, após as aulas no Colégio Castelo Branco…. Que emoção sentir nossa comunidade ganhando o mundo!!!

Hoje a camisa usada é só a do Dragão, mas passado e presente se misturam no orgulho de ver um gigante do futebol presente na casa do clube mais tradicional desse Estado, no nosso bairro, em Campinas, no Accioly.

Ps: Muitos dos dados utilizados nessa crônica são oriundos das pesquisas realizadas pelo Projeto Futebol de Goyaz, bem como de livros e crônicas sobre o Futebol Goiano e o Atlético Goianiense, produzidos por João Batista Alves Filho, Lisita Junior, José Mendonça Teles e Horieste Gomes, e da experiência e pesquisas do próprio autor.

Paulo Winicius "Maskote" – Diretor de Patrimônio Histórico e Cultural do Atlético Goianiense, Historiador, Professor, Doutorando em História pela USP, Sócio Proprietário do Atlético.

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